A falta de uma política de refugiados na UE é um dos grandes problemas com que nos deparamos. Como é que se pode resolver a falta de coordenação de politicas entre Estados e a própria UE de forma a salvaguardar as vidas dos refugiados do Norte de África e os interesses dos países europeus?
Considero que é essencial a elaboração e prossecução de uma política europeia para os refugiados e a imigração .
Se ela ainda não existe , isso não é por ausência de iniciativa das instituições europeias ( já em 2007 a Comissão por mim liderada apelava aos estados membros nesse sentido !...) mas por falta de vontade e de espírito de compromisso de vários governos europeus.
Se queremos manter a liberdade de circulação no espaço europeu então precisamos , precisamente pela ausência de fronteiras internas , defender com credibilidade a nossa fronteira externa.
Receber os refugiados constitui uma obrigação humanitária ( imposta aliás pelo Direito Internacional ) a qual nenhum país se pode eximir . Mas não existe para a UE qualquer obrigação de receber mais imigrantes do que aqueles que os seus países julgam poder integrar . Por isso a coerência na fronteira externa e importante.
Se os cidadãos europeus ficam convencidos que as suas fronteiras não estão devidamente protegidas será grande o risco de movimentos e partidos xenófobos e/ou ultra nacionalistas , como aliás já está a acontecer em alguns dos Estados membros da UE, tomarem cada vez mais poder . Por isso já utilizei a fórmula “portas abertas mas não escancaradas” para ilustrar o que a meu ver deve constituir uma política europeia equilibrada no domínio da imigração.
Ao mesmo tempo , torna-se necessário que a política de responsabilidade na gestão da imigração seja acompanhada por verdadeira solidariedade no acolhimento dos refugiados . Trata se de um problema europeu e não é legítimo deixar sobrecarregados alguns países só porque estes estão geograficamente mais expostos.
Na política de imigração, como em tantos outros domínios , o que a UE precisa e de responsabilidade e de solidariedade . As falsas soluções do facilitismo , por um lado, ou do rigorismo , por outro, podem agradar a uma certa esquerda ou a uma certa direita, mas são na realidade respostas demagógicas e perigosas para uma UE que se quer apoiada nos valores da dignidade da pessoa humana e da tolerância .
Qual considera ter sido o grande desafio de ter sido presidente da Comissão Europeia enquanto português?
O meu maior desafio como Presidente da Comissão Europeia enquanto português foi naturalmente o de procurar evitar o colapso financeiro de Portugal durante a crise financeira e da dívida soberana.
Como se sabe essa crise , que tomou formas específicas e criou desafios particulares na zona euro , foi a mais séria e devastadora crise económico-financeira da era da globalização e exigiu não apenas respostas sistemicas ao nível da governação do euro mas também programas de ajustamento muito exigentes nomeadamente na Grécia , Irlanda,Espanha ( programa específico para o sector bancário ), Chipre e Portugal.
Era para mim óbvio que o País mais exposto a seguir a Grécia seria Portugal e , também por isso , fiz tudo o que estava ao meu alcance para evitar que viesse a verificar-se o que na altura se chamava o “Grexit”(saída da Grécia do Euro ) , pois estava seguro que , para além das terríveis consequências para a própria sobrevivência do euro e da UE , Portugal seria a próxima vítima .
Estou convencido que esta minha sensibilidade portuguesa foi determinante no modo como procurei que a Comissão encontrasse pontos de equilíbrio entre perspectivas tão opostas ( por exemplo entre Alemanha e Grécia) que então havia no âmbito da zona euro . E , obviamente, trabalhei também muito intimamente com as autoridades portuguesas durante esse período .
Sei bem que o ajustamento em Portugal foi difícil economicamente , politicamente e socialmente . Mas estou convicto que conseguimos evitar cenários muito mais negativos para não dizer realmente catastróficos .
Daí a minha satisfação quando Portugal, contrariando tantos analistas internacionais ( e também tantos políticos nacionais...) conseguiu a chamada saída limpa do programa , regressando aos mercados e , com uma confiança recuperada, se mostrou capaz de voltar ao
caminho do crescimento económico.
Estando Portugal "nas bocas do Mundo", por boas, mas acima de tudo más notícias, pensa que o futuro da Europa passa pelo nosso país, ou vamos ficar destinados a continuar rotulados como o "país dos velhos"?
Tendo em conta a atual volatilidade dos mercados, a evolução das novas tecnologias (ex. Industria 4.0) e as diferenças significativas das novas gerações, qual é neste momento a principal dificuldade que a Europa enfrenta?
Como antigo presidente da Comissão Europeia, como responde aos crescentes populismos e à falta de credibilidade que as populações vêem na União Europeia?
Pensando a abstenção nas eleições europeias, seriam as listas transnacionais, uma forma de aproximar as pessoas de programas e conceitos além fronteiras, especialmente pensado, para a Europa, estimulando o espírito europeu mais do que a exclusividade nacional?
Em Junho de 2004 tomou a decisão de apresentar a sua demissão do cargo de Chefe de Governo ao Presidente Jorge Sampaio. Qual o balanço que, actualmente, faz da actuação do governo de coligação entre o PPD/PSD e o CDS/PP que liderou? Considera que foi um governo reformista? Que procurou enfrentar os graves problemas económicos e financeiros do país?
Não sendo Portugal considerado um País grande da União Europeia, considera ter sentido dificuldades acrescidas quando assumiu a Presidência da Comissão Europeia?
Liderou a Comissão Europeia numa das alturas mais críticas para a sua de se elevar e afirma enquanto potencia. Posteriormente, foi convidado a exercer funções como membro de uma conhecida instituição financeira. Como vê este sucesso de funções em dirigentes políticos e como acha que se pode evitar que comportamentos semelhantes minem a política?
Poderá a saída do EUA da OMC agravar o défice de balança corrente de tal forma a que os credores aumentem significativamente as taxas de juros? Se sim, como poderá dar a volta ao problema?